segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amor que nunca acabará

Começou há mais de vinte anos, lá em 1988, quando eu ainda nem sabia ao certo o que tudo isso significava. Sentado no sofá pequeno da sala de casa, assistia meu pai assistir o jogo. Em campo Inter e Bahia.
O pai não sossegava. Roia unhas e chorava de forma comovente em frente a nossa TV Philco Hitachi, recém comprada, em 24 vezes nas lojas Colombo.
Era um tal de senta e levanta, Gritos em meio a sussurros de compreensão impossível.
No fim do jogo observei com tristeza as lágrimas sorrateiras que rolavam pelo rosto barbudo do Beto, sem sequer pedir licença.
Mesmo sem entender aquilo tudo, fui ao banheiro e busquei uns dois ou quinze metros de papel higiênico. Era minha contribuição para aquele momento em que meu pai parecia criança.
Só depois fui entender que os dois gols que o maldito Bobô fez naquele jogo, eram punhaladas dolorosas para um torcedor apaixonado pelo time que traz no rubro de sua camiseta a paixão de uma nação Inteira.
Por isso lhes digo amigos: Comecei a torcer pelo Internacional numa tarde de domingo, depois de ver o colorado ser derrotado por dois a zero. Poderia um começo de paixão ser mais verdadeiro, intenso e irracional? Não, é claro que não!
Depois de ganhar uma camiseta umbro, número dez, do Caíco, tinha orgulho de lembrar da conquista de um campeonato nacional que vencemos de forma inédita e invicta, mesmo sabendo que tinha sido lá em 79.
Foi um gremista quem criou a frase, mas ela cabe bem no meu sentimento”e aquele sentimento que era passageiro não acaba mais”
Ser colorado é ouvir o Gol do Célio Silva na final da copa do Brasil, e lembrar daquele chumaço de terra saindo do gramado depois de um chute com mais vontade do que técnica. É comemorar o gol do Fabiano numa final de gauchão e depois ver o gordinho dar show num histórico 5 a 2. Ser colorado é sonhar com uma libertadores depois de ser garfiado descaradamente num jogo contra o Corinthians, quando nos ceifaram um campeonato que todos sabem que é nosso.
Torcer pelo colorado é meter 8 num time que um dia disseram ser nossa touca.
Ser colorado é estar na frente da televisão e ver o Sóbis calar o Morumbi inteiro, para na semana seguinte cantar junto e bem alto com o Beira Rio lotado por gritos enlouquecidos imersos num devaneio sem fim. É gritar alto, ficar rouco, tremer e chorar.
Vi meu time chegar num mundial que todos já tinham dado ao temido Barcelona, e vi o colorado sair de lá respeitado pelo mundo inteiro depois de mostrar que só ganha quem vence. Por um instante amei o Gabirú.
Ser colorado é voltar de lá e ter fôlego pra no ano seguinte ganhar uma Recopa contra os mexicanos que sentiram de perto e bem forte como joga o clube do povo do rio Grande do Sul. Ser colorado é ver o franzino Nilmar marcar um gol peliado contra os gigantes argentinos do Estudiantes, e ser o único clube brasileiro a conhecer a taça da copa sul americana.
Mas ser colorado é viver tudo mais de uma vez, é ter o coração posto a prova uma vez mais, vencer outra Libertadores com um gol do pequeno gigante Giuliano.
Ser colorado é estar em mais um mundial, saber que o time joga daqui umas poucas horas e não ter coragem de dormir.
E pensar que tudo isso começou lá atrás, vendo o Beto chorar... Ele não está mais aqui, mas certamente é nele que vou pensar quando o Inter ganhar o mundo outra vez.